Paul McCartney compensa show repetido com emoção, sucessos e vitalidade em São Paulo
16/10/2024
Cantor dominou estádio lotado em São Paulo com mais de duas horas e meia de hits e homenagens, menos de um ano depois de sua última passagem pelo país. Paul McCartney se apresenta em São Paulo, em 2024
Marcos Hermes/Divulgação
Nem parecia fazer menos de um ano desde que sir Paul McCartney tocava no mesmo Allianz Parque quando o ex-Beatle subiu ao palco em São Paulo, nesta terça-feira (15) – pelo menos de acordo com a reação do público.
O cantor de 82 anos começou o primeiro de seus três shows no Brasil com pontualidade britânica, se considerar os 30 minutos de atraso anunciados para esperar que os fãs vencessem o horário de pico da região.
Ao longo de pouco mais de duas horas e meia, Paul fez apresentação quase idêntica às oito de sua passagem pelo país no final de 2023.
A maior (e única) diferença foi mesmo "Now and then", canção inédita dos Beatles lançada em novembro. A novidade não importou muito para o público, que a essa altura teve mais do que tempo para aprender a letra e cantar junto.
"Esta noite vou falar um pouquinho de português", falou o britânico na língua nacional com sua habitual simpatia – e a ajuda de uma colinha. "O pai tá on", concluiu, para delírio coletivo do estádio lotado.
E estava mesmo. Cantou, fez dancinha, trocou de instrumentos, homenageou antigos amigos, empolgou e emocionou.
Tudo calculado e devidamente posicionado, mas com a naturalidade de quem tem o show – e os fãs – nas mãos há décadas. Ele ainda toca em São Paulo nesta quarta (16), e em Florianópolis no sábado (19).
Da arquibancada ao palco
Depois de escolher "A hard day's night" para a abertura, um dos poucos momentos que variam na turnê "Got back", o ex-Beatle se desviou para músicas gravadas com o Wings. A decisão afastou um pouco o público, ávido por sucessos do quarteto de Liverpool.
Esperto, o cantor escolheu este momento para mostrar seu trio de instrumentos de sopro tocando na arquibancada, e assim trazer os fãs um pouco mais perto do show.
"Let me roll it" foi a primeira da banda pós-Beatles a realmente atrair o público, que cantou junto do começo ao fim.
Entre uma música e outra, Paul brincou ao tirar o terno, fez dancinhas no lugar e achou tempo até para destruir na guitarra um finalzinho de "Foxy lady", homenagem a Jimi Hendrix.
Sentado ao piano pela primeira vez em "Let'em in", mostrou a amplitude de uma carreira de hits – a essa altura, o trio formado por trombone, trompete e saxofone já tinha voltado ao palco.
Depois de uma sequência matadora com "Maybe I'm amazed", "I've Just Seen a Face" e "In Spite of All the Danger", "Love Me Do" agarrou os fãs com seus versos simples e a gaitinha afiada do tecladista Paul "Wix" Wickens.
Clássicos antigos e novos
Toda essa energia foi aproveitada logo em seguida. Sozinho no palco com um violão, do alto de sua habitual plataforma elevada, o cantor liderou o coral de milhares de pessoas em "Blackbird" – o anúncio da fase emocional e "acústica" do show.
Celebrada desde os primeiros versos, pela recepção dos fãs "Now and then" a essa altura podia ser considerada um clássico do quarteto, e manteve a homenagem aos antigos parceiros do cantor com belas imagens nos telões.
Antigo parceiro de Paul em turnês, este foi o momento da guitarra de Rusty Anderson brilhar nos altos e belos acordes da música.
"Essa canção é dedicada ao meu….", introduziu Paul, com dificuldade de entender a última palavra em português. "Parça", concluiu. Risos e aplausos.
Com um ukulele dado por George Harrison (1943-2001), era hora de "Something" em um arranjo mais ensolarado, mas não menos emocionante.
A versão acústica logo foi substituída pela mais clássica, com acompanhamento da banda – a alegria geral do público pela transição em contraste claro com a parte mais sentimental do show.
Tanto que Paul emendou "Ob-La-Di, Ob-La-Da" logo em seguida, recebida com gritos animados e dancinhas, o mais próximo que a noite chegaria de um bate cabeça.
O barulho ainda ficou pequeno perto de "Get back" pouco depois. O sucesso foi elevado pelas belas imagens do documentário recente, e ainda deu o momento para Brian Ray (guitarra e baixo) nos breves solos.
Logo após o hino melódico de "Let it be", a apoteose pirotécnica de "Live and let die" só não causou comoção maior porque todos estavam mais preocupados em gravar tudo com seus celulares.
Paul McCartney se apresenta em São Paulo, em 2024
Marcos Hermes/Divulgação
Ao fim dos fogos de artifício por todo o palco, ficava até difícil lembrar que o cantor que comandava tudo aquilo é um octogenário.
Se "na na"s gerassem energia, era possível abastecer a cidade de São Paulo por cerca de dois anos (ou dois temporais imprevistos) com o clássico coro em "Hey Jude", puxado logo antes da saída do bis – que durou pouco, o suficiente para banda buscar bandeiras do Brasil, do Reino Unido e da comunidade LGBTQIA+.
Bis e até logo
No retorno, Paul anunciou que "I've got a feeling" era especial para ele. Durante a música, o público entendeu quando John Lennon (1940-1980) participou com uma gravação nos telões, feita diretamente do famoso terraço da Apple Corps – último show da banda.
O medley final, de "Golden slumbers", "Carry that weight" e "The end" ofereceu finalmente o espaço para o gigantesco baterista Abe Laboriel Jr., o que completou a festa do talentoso grupo que acompanha Paul há muitos anos.
Antes de deixar o palco, o cantor se despediu com um "até a próxima". Que pode ser nesta quarta mesmo. O show ainda tem ingressos e Paul já provou que seus fãs não se importam com repetecos.